Fake Science: um cenário perigoso e desafiador para a Ciência

Fake Science: um cenário perigoso e desafiador para a Ciência

Disseminadas na web e redes sociais, as Fake Sciences abalam a credibilidade da Ciência perante parte da população e trazem riscos à saúde em meio a disputas políticas

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Entre os diversos problemas que envolvem a circulação de boatos e conteúdos falsos em sites, blogs e redes sociais, a Fake Science é um dos mais preocupantes, especialmente no cenário atual de pandemia de COVID-19. Essa prática faz uso de métodos que simulam um discurso científico para gerar credibilidade e defender um determinado ponto de vista, especialmente na forma de apresentação dos dados, mas isso nada tem a ver com Ciência, pois a metodologia de coleta e análise não se baseiam nos princípios científicos.

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Conforme aponta o artigo “Fake Science: uma análise de vídeos divulgados sobre a pandemia”, de Marcia Borin da Cunha e Vanessa Ron Jen Chang, pesquisadoras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, as Fake Sciences apresentam elementos comuns, que são: a referência a um estudioso ou instituto de pesquisa de um local desconhecido ou distante; uma informação que tenha uma verdade atrelada à nossa cultura; um chamado para você propagar aquilo e uma referência a Deus.

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As pesquisadoras analisaram quatro vídeos relacionados com a COVID-19, nos quais os interlocutores apresentam uma solução para a cura ou prevenção do vírus SARS-Cov-19. Os conteúdos dos vídeos, que circulam pelo Whatsapp, vão desde receitas de chás e misturas milagrosas para combater a doença até afirmações (falsas) de que o álcool em gel não é eficaz para matar o vírus.

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Fake News e Fake Science

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O estudo de Cunha e Chang aponta para a relação indissociável entre Fake Science e Fake News. Considerando que, de modo geral, as Fake News tem uma parte “comprovável” da mensagem ou de conhecimento do público em geral, mas uma outra parte, verdadeira, é omitida, as Fake Sciences operam da mesma forma, porém com esse tipo de informação deturpada relacionada à Ciência.

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Neste sentido, a Ciência é atingida porque conta com informações de interesse público e também pela credibilidade que possui frente à população. Assim, as Fake Sciences são amplamente disseminadas e passam a formar grupos que não só compartilham as mensagens como também tomam decisões com base nestas informações. Um exemplo é o movimento antivacina, que tem adeptos no mundo todo. Esse movimento se instituiu a partir de notícias falsas sobre vacinas e tem influenciado diretamente as pessoas, inclusive sobre as decisões de vacinar ou não seus filhos.

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O problema das Fake Sciences é tão grave que doenças já consideradas controladas voltaram a fazer parte do contexto atual, como por exemplo o sarampo. Outras notícias como as teorias de que o homem jamais pisou na Lua ou da Terra plana são compartilhadas por usuários na Web e redes sociais e tornam-se “verdades” a ponto das pessoas duvidarem do que a Ciência já explicou a respeito.

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Redes sociais e contexto político influenciam a proliferação das Fake Sciences

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Outro material que se aprofunda no tema das Fake Sciences é um estudo do Departamento de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo analisa conteúdos no Twitter que, conforme o próprio resumo aponta, “reivindicam o status científico para trazer argumentos de autoridade a mensagens sobre a Covid-19, incluindo adesão ou crítica a medidas protetivas, aplicação ou não de vacinas e grau de periculosidade do vírus, entre outros”.

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Foram analisados mais de 3 milhões de tweets publicados entre janeiro e maio deste ano e o estudo utilizou a análise de clusters, um método estatístico usado para identificar diferenças e semelhanças entre determinados grupos. A divisão dos grupos foi feita por cores, da seguinte forma: Laranja (29,6% dos perfis), formado por profissionais da saúde e outras autoridades sanitárias; Azul-Claro (24,9% dos perfis), composto por políticos de esquerda, celebridades e ativistas sociais da oposição ao presidente Jair Bolsonaro; Verde (9,5% dos perfis),formado por epidemiologistas, jornalistas e associações de infectologia e Lilás (21,5% dos perfis), composto por políticos de direita, blogueiros e influenciadores digitais conservadores.

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FONTE: FGV – DAPP

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Dos quatro clusters identificados, o que mais angariou engajamento pautou principalmente a defesa do tratamento precoce, situando-se no campo do conservadorismo de direita em alinhamento com o governo Jair Bolsonaro. Os três outros clusters reagiram a isso, o que incluiu profissionais de saúde, autoridades sanitárias, epidemiologistas, jornalistas, além de influenciadores progressistas e de esquerda.

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No grupo alinhado ao governo, a longevidade de links que apelam à Ciência para argumentar sobre a Covid-19 foi 150% maior do que nos outros três clusters identificados, o que aponta que, mesmo nem sempre observando parâmetros de método científico para embasar sua argumentação, o cluster da direita conservadora explora o status da Ciência para defender seus pontos de vista.

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Todos esses estudos convergem para mostrar como a Ciência sofre ataques e, ao mesmo tempo, passa por um processo de esvaziamento nas plataformas digitais, sustentado por reconfigurações do uso de autoridades científicas, por pseudociência e Fake Science. O perigo é grande e o cenário é extremamente desafiador!

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FONTES:

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https://fastcompanybrasil.com/tech/parece-ciencia-mas-nao-e-entenda-o-fenomeno-da-fake-science/

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https://www.aberje.com.br/blog/o-que-e-a-fake-science-e-por-que-ela-pode-gerar-danos-a-comunicacao-empresarial

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