Acupuntura no tratamento da saúde mental: benefícios e conscientização

Acupuntura no tratamento da saúde mental: benefícios e conscientização

A acupuntura — técnica terapêutica que consiste na inserção de agulhas finas em pontos específicos do corpo — vem ganhando como alternativa de prática complementar no tratamento da saúde mental. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), em 2024, foram realizados cerca de 303 mil atendimentos relacionados à saúde mental nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Distrito Federal. Número que representa cerca de 10% da população do DF e chama a atenção para os cuidados com os pacientes que apresentam algum tipo de transtorno.

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A prática da acupuntura, difundida pela medicina tradicional chinesa, visa restabelecer o equilíbrio corporal pela estimulação de pontos específicos do corpo, utilizando agulhas e outros instrumentos. O Dr. Luiz Sampaio, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, reforça o papel da prática no tratamento de doenças mentais. “Nesses tipos de enfermidade, a acupuntura trabalha nos mecanismos de estímulo à produção e secreção de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina. Esses dois hormônios são os principais neurotransmissores ativados pelos medicamentos antidepressivos”, explica.

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O motorista de aplicativo Judson Pereira Leite, 52 anos, procurou a medicina chinesa para tratar um problema físico. “Eu comecei com a acupuntura para um problema muscular. Após ver que funcionou na coluna, resolvi tratar alguns problemas emocionais. Tratei de depressão, ansiedade e insônia, que estavam atrapalhando meu dia a dia”, afirma.

Pela sua experiência, Judson recomenda a prática a pessoas que estejam passando por problemas parecidos. “Eu aconselho que as pessoas devem procurar ajuda de cabeça aberta, confiar no tratamento e se doar para que o tratamento tenha maior efetividade. Essa prática vem somando muito à minha saúde mental”, finaliza.

Marcelo Santos, especialista em medicina chinesa explica que a acupuntura pode mostrar resultados nas primeiras sessões: “O que eu faço com os pacientes é antecipar o ponto de resposta, fazendo com que os medicamentos tenham efeito mais rápido, reduzindo, também, os efeitos colaterais. A intenção das primeiras sessões é fazer o cérebro entender que ele está sendo tratado”, afirma.

Na prática da acupuntura, são considerados cerca de 366 pontos principais presentes no corpo. Denise Oliveira, acupunturista, explica que “é uma prática que trabalha a energia vital, por isso, é necessário trabalhar vários pontos ao mesmo tempo”. Ela cita alguns pontos que oferecem ajuda em doenças mentais. “No punho, estimulamos os pontos C7, pericárdio 6 e P9 para tratar ansiedade, depressão e deixar a mente mais calma. Na testa, temos o ponto intã, um ponto extra que trabalha a insônia e a ansiedade. Esse ponto é trabalhado em conjunto com outros para tratar ansiedade e depressão”, completa.

Para o psiquiatra Pedro Leopoldo, a integração de consultas com o uso de técnicas complementares como a acupuntura, são ótimos aliados para a manutenção da saúde mental: “A integração de terapias complementares no cuidado com a saúde mental é uma abordagem extremamente positiva. A saúde mental não pode ser dissociada da saúde física, pois ambas estão interligadas diretamente”, afirma.

Fenando Genschow, médico acupunturista da Secretaria de Saúde (SES-DF), ressalta que as práticas integrativas e complementares não substituem o tratamento tradicional. “Não são indicadas como o principal tratamento de casos, como esquizofrenia, transtorno bipolar, dependência química, transtorno obsessivo compulsivo, transtornos alimentares e de somatização”, alerta.

Para a estudante Maria Clara de Oliveira, 18, a acupuntura a ajudou muito a aliviar os sintomas de ansiedade e de estresse. “Eu não estava conseguindo fazer provas e isso estava atrapalhando muito a minha vida. Durante aproximadamente cinco dias de tratamento com as agulhas, realmente senti uma melhora significativa”. Com os bons resultados, a estudante optou por parar o tratamento. “Eu deveria ter realizado mais algumas sessões para ter uma evolução maior”, disse Maria Clara, que pretende retomar o tratamento.

Conscientização

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em quatro pessoas apresentam problemas relacionados à saúde mental. Desde 2014, o Brasil instituiu o Janeiro Branco como o mês dedicado a conscientizar a população sobre problemas de saúde mental. O acupunturista Marcelo avalia a campanha como positiva. “A sociedade começa a entender que existe um problema, que depressão não é só tristeza, é muito sério, é uma doença. O uso das cores nestas campanhas é muito importante para marcar na mente da população que é importante procurar auxílio especializado”, afirma.

Atendimento

No Distrito Federal, o tratamento e acompanhamento psiquiátrico são oferecidos pelos CAPS distribuídos pelas regiões administrativas. Alguns deles disponibilizam a acupuntura por meio de atendimento regulado, ou seja, o paciente precisa procurar, primeiramente, uma Unidade Básica de Sáude (UBS) que pode encaminhá-lo para uma Policlínica. Depois, ele entra em uma fila de espera para ser atendido. Em casos de necessidade de atendimento urgente, pode procurar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou as Unidade de Pronto Atendimento (UPAs).

*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

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