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A ideologização da ciência impactou negativamente a pesquisa científica brasileira, mas o balanço dos estudos conduzidos no país durante a pandemia da Covid-19 é positivo. Essa é a opinião dos especialistas da Saúde que participaram do webinar Foro Inteligência, realizado pela revista Insight Inteligência, na última terça-feira (07/12).
nnhttps://youtu.be/fM94bB7-tZM
A diretora institucional da Abracro (Associação Brasileira das Organizações Representativas de Pesquisa Clínica), Ana Elisa Miller, apontou para um avanço tecnológico durante os estudos conduzidos em busca de medicamentos e vacinas contra a Covid-19.n
“Os estudos clínicos entraram numa fase digital. Muita coisa foi modernizada, tivemos o desenvolvimento da telemedicina, dos wearables . Houve uma maior celeridade nas revisões e aprovação regulatórias, com uma redução da burocracia. Também tivemos mais colaboração entre indústrias, governos e cientistas, com troca de informações para alternativas terapêuticas”, enumerou, citando a disseminação de fake news como pontos negativos.
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O protagonismo e a credibilidade das instituições, como Anvisa, Fiocruz e Instituto Butantan, além do próprio SUS, também chamaram atenção, recordou a diretora da Abracro, citando as pessoas orgulhosas de tomarem a vacina que bradavam “Viva o SUS”.
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A farmacêutica-bioquímica chamou atenção para a falta de protagonismo do Brasil nas pesquisas clínicas e para a necessidade urgente de se reverter tal quadro.
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“Apesar de ser a sexta população do mundo, o sétimo mercado farmacêutico, o nono PIB do mundo, o Brasil é o 24º país em participação em estudos clínicos. Apenas 2,13% dos estudos no mundo são produzidos aqui. Em relação à Covid-19, temos uma participação um pouco maior, de 3,81%”, disse durante o Foro Inteligência, citando dados obtidos pela Abracro em 2019.
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A diretora da Anvisa, Meiruze Souza Freitas, destacou o desafio vivido pela Agência de Vigilância Sanitária no relacionamento com a imprensa em meio a um clima de ideologização e desconfiança, com diretores da entidade recebendo inclusive ameaças.
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“A Anvisa era pauta diária na mídia escrita, falada e na internet. Tivemos que reaprender a trabalhar a regulação dentro desse cenário que desconhecíamos. Nos deparamos com grupos questionando nossas avaliações. Buscamos, então, nos apartar desse processo de polarização, nos unirmos e nos guiarmos pela ciência”, lembrou.
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A Anvisa aprovou, no contexto da pesquisa clínica voltada para a Covid-19, 100 estudos, sendo que 51 desse total ainda não foram analisados.
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“As empresas mais importantes no desenvolvimento de vacinas buscaram conduzir suas pesquisas no Brasil”, disse.
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Para Meiruze, o grande legado da pandemia para a Anvisa está no conhecimento sobre o papel da agência.
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“Melhoramos a nossa transparência para que a população conhecesse os processos regulatórios. O grande legado da pandemia foi o conhecimento sobre o que a Anvisa faz. E a imprensa se posicionou ao lado da ciência e da regula”, destacou.
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O médico virologista da UFMG Maurício Nogueira enfatizou os aspectos negativos trazidos pela ideologização ao trabalho científico, apesar de a ciência brasileira ter virado protagonista.
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“A polarização e o protagonismo da ciência geraram algo muito desconfortável para nós, cientistas. O protagonismo realmente veio, mas não é inédito, somente na magnitude. Tivemos algo muito semelhante há quatro anos, com a emergência do zika vírus, Estávamos no Jornal Nacional, nas mídias. Desta vez, as proporções são muito maiores, a ponto de se chegar a uma CPI no Congresso Nacional”, comentou ele, citando a rede social como um “palco onde se diz o que se quer e que tira a possibilidade de se tomar um tapa na orelha”.
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Os curadores do debate promovido pela revista Insight Inteligência citaram as informações confusas que gravitam sobre testes de natureza distinta, conduzidos no país. Enquanto alguns foram realizados sem seguir protocolos e sem as autorizações devidas, como aqueles que envolveram a cloroquina, outros estão sendo feitos de maneira irregular. Por vezes, a mesma substância pode ser usada em testes distintos, que seguem ou não as o cumprimento de todas as exigências dos órgãos regulatórios, como é o caso da proxalutamida.
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“Os testes com a proxalutamida não foram feitos pela empresa fabricante, que está inclusive realizando pesquisas no Brasil, da forma correta”, frisou o virologista Mauricio Nogueira, referindo-se ao teste conduzido pelo endocrinologista Flavio Cadegiani em sua clínica particular, em Brasília.
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O médico é atualmente investigado por indícios de irregularidades na apresentação de documentos que permitiram a importação da proxalutamida.
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A pandemia do novo coronavírus trouxe mais conhecimento e conscientização da população em relação à importância dos estudos clínicos, analisou Ana Elisa Miller, da Abracro.
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“Vimos uma corrida das pessoas querendo participar dos estudos. Achamos que isso é muito positivo para o futuro. A Covid-19 vai acabar, mas os estudos clínicos prosseguem”.
O desenvolvimento da pesquisa clínica traria muitos impactos positivos na economia e na saúde do país, destacou a diretora da Abracro. Entre tais pontos, estão os benefícios a milhões de pacientes, a contratação de milhares de profissionais científicos, mais de R$ 2 bilhões de investimentos diretos por ano, a aceleração da produção científica inovadora e de alta qualidade e a melhoria no padrão de tratamento da população.
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